sábado, 22 de dezembro de 2012

Exposição divulga arte rendeira em Florianópolis

Viabilizada com recursos do Fundo Municipal de Cultura, exposição foi aberta na quinta-feira (20), no Casarão das Rendeiras, na Praça Bento Silvério, na Lagoa da Conceição

Registrada como uma tradição cultural com risco de desaparecimento, na década de 1980, pelo folclorista Doralécio Soares (1914-2012), a produção da renda de bilro na capital catarinense vive uma fase de efervescência e mudanças. Se no passado a atividade era restrita às mulheres, hoje o setor começa a perceber a presença de homens na função de rendeiro. É o que revela o artista plástico e fotógrafo Jone Cezar de Araújo, na exposição “Renda de Bilro de Florianópolis”, que foi aberta nesta quinta-feira (20), às 20h, no Centro Cultural Bento Silvério, na Lagoa da Conceição.
Contemplado por edital de fomento da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), com recursos do Fundo Municipal de Cultura, o projeto inclui uma mostra com 30 fotografias coloridas em suporte de tecido sintético, revelando o universo da renda no município. As imagens registram a beleza dos produtos, o ambiente de trabalho e a tradição familiar herdada dos imigrantes açorianos que chegaram à Ilha de Santa Catarina, no século 18. Também está prevista a criação de um blog sobre o tema.

Mapeamento cultural

A produção rendeira na Capital vem sendo pesquisada por Jone Araújo desde 2010, quando junto com Maria Armênia Wendhausen iniciou um mapeamento cultural da atividade. O trabalho foi realizado por meio do Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural – Promoart, desenvolvido pelo Ministério da Cultura (MinC), em parceria com a Fundação Franklin Cascaes e Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina. O levantamento era uma das ações para a implantação do Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis, efetivado em março de 2011.
Após essa etapa, a dupla continuou visitando comunidades na Ilha e região continental registrando o cotidiano de artesãs que mantêm essa tradição passada de mãe para filha há mais de dois séculos. A pesquisa incluiu as fases de produção, começando pela coleta da matéria-prima, passando pelo processo de recorte e conservação dos piques (moldes de papelão que dão formato à renda), até a escolha do tecido para confecção das almofadas e a construção dos caixotes que apoiam os cilindros feitos de pano.
Nas andanças pelo interior da Ilha, Jone e Mena ouviram relatos e conheceram cantorias, crenças e histórias de vida de mulheres e homens envolvidos nas tramas da tradição. O trabalho masculino mostrou-se fundamental na manutenção da atividade artesanal, seja construindo os caixotes, coletando a madeira, ou torneando os bilros que prendem os fios de linha. E, agora, também ajudando na confecção dos produtos.
Inicialmente foram realizadas 80 visitas e a partir delas, por indicação das artesãs, outros nomes de rendeiras foram surgindo, levando os pesquisadores a estimar a existência de pelo menos 300 mulheres e alguns homens atuando no ofício em Florianópolis – a grande maioria é oriunda de famílias descendentes de açorianos, ligadas direta ou indiretamente à pesca artesanal, o que confirma o ditado popular que diz que “onde há rede, há renda”.
Além de propiciar a exposição fotográfica no Casarão das Rendeiras, parte da pesquisa será divulgada no livro Rendeiras, assinado por Jone Cezar de Araújo e Mena Wendhausen. A obra, que será lançada em breve com o selo da Fundação Franklin Cascaes Publicações, faz um minucioso registro etnográfico e iconográfico desse artesanato de tradição cultural que é um patrimônio imaterial da cidade.

Serviço:

O Quê: Exposição “Renda de Bilro de Florianópolis”
Quando: quinta-feira (20/12) – 20h
Visitação até 20 de janeiro de 2013
Onde: Centro Cultural Bento Silvério /Casarão das Rendeiras
(Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis)
Praça Bento Silvério – Lagoa da Conceição
 Quanto: gratuito

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